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SIMPÓSIOS

1. Os 50 anos de independência

Profa. Dra. Naduska Mário Palmeira (UFRJ / Brasil)

Nos 50 anos da Independência dos PALOP do jugo colonial português (51 anos da Guiné Bissau), celebramos a vitalidade dos processos de libertação como observada na literatura produzida nesses países antes de 1975, durante as emancipações políticas e após. Convidamos os estudiosos e pesquisadores a refletir acerca dos processos de luta, especialmente, de resistência à imposição colonialista e da colonialidade - que ainda se verifica na contemporaneidade - da forma como se desenham nas obras literárias, em poesia e prosa, nos CINCO. Se, como afirma Inocência Mata, “as literaturas são metonímia da história dos países”, elas também são fonte de conhecimento e poder para aqueles/as que as leem e os/as que as produzem. Ainda na clave do texto literário, observamos a luta por meio das palavras, o que nos convoca a discutir a incontornável intelectual e poeta são-tomense Alda do Espírito Santo, em seu valioso trabalho “É nosso o solo sagrado da terra” (1978). Objetivamos, ademais, analisar as relações entre passado-presente-futuro e como essas temporalidades desenham os anseios de reconstrução política e íntima/individual de países que tiveram, por séculos, seus alicerces culturais e humanos devastados pelo regime colonial. Serão aceitas leituras de artistas consagrados/as no universo da língua portuguesa, como Luandino Vieira, Pepetela, Ondjaki, Agostinho Neto, Manuel Rui, Lília Momplé, Mia Couto, Noémia de Sousa, Ungulani Ba Ka Khosa, Paulina Chiziane, Luís Bernardo Honwana, Marcelo da Veiga, Alda do Espírito Santo, Conceição Lima, Amílcar Cabral, Odete Semedo, Abdulai Sila, dentre tantos outros que abordam, no corpo vivo que são seus textos, as marcas tanto das guerras coloniais (com palavras ou armas) quanto das guerras civis que, após a independência, assolaram países como Moçambique ou Angola. Como a literatura serviu e serve como suporte vital para registro das transformações históricas, sociais e culturais, bem como de projeto de luta e perspectivação da liberdade, exposição e tentativa de cura das feridas coloniais, que se podem sentir até o presente, encorajamos também discussões que se voltem para a viabilidade da (re)existência dos países insulares considerados mais vulneráveis economicamente, como São Tomé e Príncipe, e mais frágeis no que concerne à sustentabilidade, como Cabo Verde, o que os obriga à manutenção, em parte, de algum tipo de relação com Portugal.

Palavras-chave: Independência dos PALOP; Literatura e luta; Processos de libertação; Literatura e liberdade

2. Literaturas dos países africanos de língua portuguesa na pós-independência

Prof. Dr. Kaio Carmona (Universidade Agostinho Neto / Angola)

Profa. Dra. Fernanda Benedito (Universidade Agostinho Neto/ Angola)

Prof. Me. Jardel Pereira Fernandes (PUC Minas / Brasil)

 

Este simpósio receberá trabalhos que tratem das literaturas africanas de língua portuguesa na pós-independência, da segunda metade da década de 1970 até os nossos dias, na contemporaneidade. As reflexões podem problematizar tanto a literatura de um país, em perspectiva ampla, quanto a análise concentrada de um(a) escritor(a) africano(a), de uma obra, ou mesmo de uma geração literária, bem como a aproximação e distanciamento de diferentes obras e autores(as) em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, em prosa ou poesia. O processo de transformação pelo qual passou a literatura dos países africanos de língua portuguesa na pós-independência é bastante complexo e revela diferentes estratégias, seja por meio da memória e da história, seja pelas escolhas feitas para lidar com a nova dinâmica social e as tensões político-econômicas. Ao mesmo tempo, essas literaturas trazem uma forte crítica ao legado colonial e são espaços de reflexão de suas novas realidades. Sobretudo, as diferentes vozes desses países se apresentam como meio de resistência cultural, ao promover uma literatura que é, em diverso painel, universal e profundamente enraizada nas realidades locais. Em 2025 temos meio século passado das independências dos países africanos de língua portuguesa, um caminho de reflexão já construído por estudiosos, nacionais e internacionais, que se debruçam sobre os diferentes panoramas sociais, históricos e políticos, por meio do fazer literário dessas culturas. Neste sentido, serão bem-vindos neste simpósio os textos que se propõem a analisar os diferentes modos de representação do período posterior às independências, as suas questões e impasses, suas transformações, e os diálogos com outras manifestações artísticas.

 

Palavras-chave: Literaturas africanas; Pós-independência; Contemporâneo

3. A historicidade das literaturas dos países africanos de língua portuguesa 

Profa. Dra. Roberta Guimarães Franco (UFMG / Brasil)

Luandino Vieira, em seu texto “Literatura Angolana: estoriando a partir do que não se vê” (2008), teceu várias considerações acerca do que chamou de “buracos negros” na história da literatura angolana: obras e autores desconsiderados, por questões políticas, livros que não ganharam reedições, consequentemente desapareceram dos estudos literários, entre outros exemplos ou causas que pouco têm relação efetivamente só com a literatura. O caso angolano estende-se também às demais literaturas africanas escritas em língua portuguesa, ou seja, em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe a literatura, ainda afetada pelos processos políticos ligados à colonização e aos conturbados contextos pós-coloniais, carece de uma historicidade própria, individualizada. Se por um lado são muito conhecidas as sistematizações que dividem as produções literárias entre uma “literatura colonial” e as “literaturas africanas”, estas compreendidas muitas vezes como resposta ao exotismo e marginalização promovidos por aquelas, ou mesmo as tentativas de periodizações e o reconhecimento de grupos e gerações, ainda encontramos o peso das interferências externas, sobretudo do Brasil, para pensar a historicidade das literaturas africanas de língua portuguesa. Tendo em vista o momento das comemorações em torno do cinquentenário das independências, interessa ressaltar as dificuldades ainda existentes acerca de uma história da literatura para esses espaços, mas também pensar outros caminhos, que compreendam as dinâmicas próprias das produções literárias desses países, sem a imposição de modelos estrangeiros. Nesse sentido, o simpósio pretende acolher trabalhos que reflitam sobre a história das literaturas africanas de língua portuguesa, de forma específica ou comparada, bem como sobre as tentativas de periodização ou sistematização historiográfica dessas literaturas. Também serão bem-vindas discussões sobre movimentos culturais, grupos intelectuais, revistas, jornais, entre outros produtos, que possam configurar um entendimento historiográfico das literaturas africanas de língua portuguesa. Também serão considerados trabalhos que reflitam sobre a circularidade cultural entre os espaços de língua portuguesa, evidenciando diálogos e/ou dissonâncias.

 

Palavras-chave: Historicidades; circularidade cultural; literatura comparada.

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4. O ensino de literaturas dos países africanos de língua portuguesa

Profa. Dra. Terezinha Taborda Moreira (PUC Minas / CNPq / FAPEMIG / Brasil)

Vivemos uma época de contradições, na qual, ao lado de pressupostos tradicionais do pensamento científico que insistem na naturalização das relações sociais pautadas numa perspectiva única, encontramos tentativas de desconstrução do caráter universal e natural da sociedade capitalista-liberal. Uma época em que o legado de desigualdade e injustiça social profundas, resultante do colonialismo, do imperialismo e da concepção epistemológica do eurocentrismo, é confrontado pelas reivindicações de novas e diversas epistemes, que abrem espaço para que múltiplas formas de pensar se interconectem com lógicas distintas, num movimento intercultural que aponta para as gnoses liminares e coloca em diálogo diferentes saberes. A abertura para novos lugares de enunciação, proposta pela noção de “gnose liminar” de Walter Mingnolo (2007), nos lembra que vivemos a emergência de um pensamento outro, liminar, pós-ocidental. Um pensamento que se produz nas margens, na contramão da ideia de subalternização de todas as formas de saber produzidas por/entre povos e culturas diversos da ciência eurocêntrica. Um pensamento que busca a coexistência entre os mundos. Descolonial, esse pensamento propõe substituir uma geopolítica de conhecimento baseada na história imperial do Ocidente nos últimos cinco séculos por uma outra geopolítica, baseada nas subjetividades, línguas, religiões, organizações políticas e econômicas, etc. que foram negadas ao longo desse período. Seu pressuposto seria o de desvelar a lógica da colonialidade e da reprodução da matriz colonial do poder para permitir aos sujeitos desconectarem-se dos enquadramentos das subjetividades propostos pelas categorias do pensamento ocidental. Diante desse quadro, interessa a esse simpósio discutir a situação do ensino das literaturas dos países africanos na atualidade. Na Educação Básica, a Lei nº 10.639/2003 tornou obrigatório o ensino da história e cultura africana nas escolas brasileiras de Ensino Fundamental e Médio. No entanto, passados mais de vinte anos da promulgação da Lei, verifica-se a resistência ao trabalho com esses conteúdos. Entre os professores, as dificuldades alegadas elencam a falta de formação adequada sobre como introduzi-los, de capacitação e de material didático específico para o trabalho em sala de aula. O mercado editorial, além de disponibilizar poucos títulos de obras de países africanos, restringe as publicações àqueles autores com maior possibilidade de comercialização, o que nem sempre revela a diversidade de autores e obras desses países e, consequentemente, contribui para reiterar uma visão padronizada deles. No Ensino Superior, a obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana na Educação Básica gerou a inserção do ensino das literaturas africanas nas salas de aula de várias universidades, seja na graduação ou na pós-graduação, lato e stricto sensu. Sem dúvida, esse movimento tem contribuído para a formação de uma massa crítica a respeito do tema. No entanto, esse simpósio considera importante discutir os limites que essa massa crítica enfrenta para lidar com a questão do ensino dessas literaturas. Serão aceitas propostas de comunicação que reflitam sobre: (i) as abordagens teórico-críticas que têm sido buscadas para pensar a complexidade das produções artísticas e literárias africanas de língua portuguesa na atualidade; (ii) o modo como essas abordagens têm respondido às questões que envolvem o ensino dessas literaturas e produções artísticas; (iii) como elas pensam o trabalho, em sala de aula, com textos oriundos de sistemas artísticos e literários diferentes; (iv) como elas tratam as fronteiras existentes entre esses textos; (v) que percepções têm sido arroladas para ler essas produções estéticas; (vi) como essas percepções lidam com os diferentes saberes oriundos dos sistemas literários e artísticos africanos; (vii) que propostas têm sido adotadas para ler criticamente hoje as produções estéticas dos países africanos; (viii) que metodologias têm sido adotadas para tornar crítica a recepção do texto literário africano nas salas de aula.

 

Palavras-chave: Literaturas dos Países Africanos de Língua Portuguesa; Ensino; Novas epistemologias; Gnose liminar.

5. A crítica literária dos países africanos

Profa. Ana Mafalda Leite (Universidade de Lisboa / Portugal)

Profa. Me. Francisca Patrícia Pompeu Brasil (PUC Minas / CAPES / Brasil)

 

Este simpósio tem por objetivo apresentar reflexões sobre a crítica literária dos países africanos. Cabe aos estudos teórico-críticos dessas literaturas analisar as estratégias adotadas por escritores e escritoras na construção de modos de resistência aos valores exógenos coloniais; além de construir reflexões sobre as histórias, políticas e culturas encenadas nos diversos gêneros literários. Impõe-se, assim, a necessidade de examinar os entrecruzamentos entre os saberes locais e os saberes globais nas abordagens dessas obras. Nesse sentido, são conceitos que se destacam: modernidade, tradição, racionalidade, animismo, escrita, oralidade, gênero em suas várias perspectivas, dentre outros. Abordados pelos estudos culturais, pós-coloniais e decoloniais, esses temas se apresentam como possibilidades de reflexões acerca da construção identitária dos povos africanos no contexto da pós-colonialidade. Ainda, podem ser focalizados a partir das abordagens comparadas da literatura, que possibilitam investigações sobre os diálogos existentes entre produções estéticas dos países africanos e de outros espaços, alcançando, inclusive, a noção de literatura mundo/mundial. Interessa-nos, finalmente, acolher propostas que reflitam sobre o funcionamento das instituições validadoras dos sistemas literários e seus impactos sobre os modos de edição e circulação dos livros e as práticas de tradução e recepção das obras produzidas. É interessante observar que tais conceitos possibilitam uma abertura para os estudos sobre transnacionalidade, translinguismo e tradução, os quais podem se alinhar a análises sobre humanidades ambientais e ecocrítica. Assim, serão aceitas propostas que promovam reflexões sobre a teoria e a crítica literária africana, a partir dessas vertentes elencadas acima.

Palavras-chave: Crítica literária; Literaturas dos países africanos de língua portuguesa.

6. Estudos comparados de literaturas dos países africanos de língua portuguesa

Profa. Dra. Lílian Paula Serra e Deus (UNILAB / GEED / Brasil)

Prof. Dr. Wellington Marçal (GEED / Brasil)

 

O Simpósio objetiva acolher reflexões que tomam como campo de análise obras do sistema literário de cada um dos CINCO, a saber, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe em perspectiva comparada, quer entre si, quer com o de outras nações do continente africano ou da diáspora. Nesse sentido são bem aguardadas quaisquer retomadas dos diversos momentos da área da Literatura Comparada, cujas revisitações sejam instigadas quando da tessitura crítica de textos literários gestados nos espaços já mencionados. Contributos teóricos dos estudos comparatistas tidos como fundamentais e que podem ser balizadores das entradas nas criações literárias podem ser obtidos, por exemplo, mas não somente, em trabalhos de intelectuais como Inocência Mata (2013) e sua reflexão sobre “literatura mundo”; Mary Louise Pratt (1999) com as noções de “zonas de contato”, “contiguidades acidentais”, “vizinhança” e “encontros éticos”; Salvato Trigo (1986) e a relevância do comparativismo nos estudos literários afro-luso-brasileiros; de Tania Carvalhal (2011), Maria Carvalhão Buescu (2017), Eduardo Coutinho (2011), Sandra Nitrini (2021) que tematizam a relação da Literatura Comparada com os Estudos Culturais, bem como, apresentam um percurso de desenvolvimento dessa área que pode ser sintetizada ressaltando os seguintes momentos: origem no contexto neocolonial (séc. XIX) na ambiência do surgimento do Tratado de Berlim e dos nacionalismos; a Escola Francesa e a Tradição clássica; a crise dos anos 1950, com René Wellek e o comparatismo americano; a Literatura contemporânea e a questão da tradição literária com Borges e Elliot; a Estética da recepção e a Recepção clássica; o Comparatismo e a reversão da dependência cultural, ou, a descolonização literária (Jorge L. Borges e Silviano Santiago). São muito aguardadas, de igual modo, as reflexões que materializam leituras comparatistas no interior de um mesmo sistema literário, ou ainda, no interior do projeto literário de um(a) mesmo(a) escritor(a). É desejável a articulação das análises críticas com a temática agregadora da segunda edição do Silas Minas, ou seja, as muitas maneiras de enunciar tempos, espaços e mediações, em escritas literárias, levadas a cabo por escritores(as) dos CINCO, dos outros países africanos e da diáspora.

 

Palavras-chave: literatura comparada; literatura mundo; zonas de contato.

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7. Diálogos Interartes: A Interseção das Literaturas Africanas e Afrodiaspóricas

Profa. Dra. Roberta Alves (UFVJM / GEED / Brasil)

Este simpósio busca promover uma reflexão interdisciplinar sobre as literaturas africanas e afrodiaspóricas, destacando os diálogos interartes que emergem dessas produções. Ao integrar diferentes formas de expressão artística, como literatura, música, cinema, artes plásticas e performance, propõe-se investigar como questões como identidade, memória, resistência e diáspora são representadas e reinterpretadas em manifestações culturais diversas. O foco recai sobre as conexões entre as literaturas e outras artes, explorando como tais interseções revelam dinâmicas de poder, resistência e hibridação cultural que atravessam as experiências africanas e afrodescendentes.


As literaturas africanas e afrodiaspóricas dialogam profundamente com outras linguagens artísticas, oferecendo caminhos para a compreensão das transformações sociais, culturais e políticas que impactam essas comunidades. No cinema de Ousmane Sembène, por exemplo, observa-se uma fusão entre tradição oral e denúncia social. Da mesma forma, na música de Fela Kuti, letras politizadas abordam identidade e resistência, estabelecendo um vínculo direto com narrativas literárias que tratam da diáspora e da ancestralidade. Esses exemplos demonstram que a literatura e as demais formas de arte compartilham uma dimensão interdisciplinar, funcionando como espaços de resistência e afirmação de identidades historicamente marginalizadas.


A teoria da transculturação de Néstor García Canclini oferece um referencial teórico essencial para este debate. Ao tratar a cultura como um processo híbrido de trocas e influências mútuas, Canclini ilumina como a produção artística e literária africana e afrodiaspórica é marcada por processos de fusão cultural. Stuart Hall, por sua vez, contribui com sua compreensão da identidade como algo dinâmico e em constante reconstrução, fundamental para interpretar as múltiplas representações da diáspora e da hibridação cultural presentes nessas produções. As obras africanas e afrodescendentes, em suas diferentes linguagens, reconstroem memórias, denunciam opressões e propõem novas formas de pertencimento.


Esse simpósio não apenas valoriza o potencial da abordagem interartes, mas também enfatiza sua relevância para expandir os horizontes interpretativos das literaturas africanas e afrodiaspóricas. Por meio da análise de temas como memória, corpo, resistência e diáspora, o simpósio pretende enriquecer o campo dos estudos literários e culturais, promovendo um diálogo acadêmico que reconheça a interconexão entre as artes.


A proposta destaca a relevância de uma análise que transcenda barreiras disciplinares, permitindo que narrativas literárias se entrelacem com músicas, imagens e performances, e contribuam para o entendimento das complexas relações entre identidade, poder e cultura. Assim, este evento visa fomentar um espaço de intercâmbio acadêmico, ampliando as perspectivas sobre as estéticas interdisciplinares e a importância da produção cultural africana e afrodiaspórica como formas de resistência e transformação.

8. Literaturas, culturas e tradições orais

Profa. Dra. Teresa Manjate (Universidade Eduardo Mondlane / Moçambique)

A literatura na sua dimensão mais profunda associa vivências, experiências que são representadas na escrita ficcionada. No entanto, este exercício de representação dialoga, numa perspectiva intertextual com universos culturais que são reconhecidos pelos leitores que os reconstroem a partir das suas visões, leituras e interpretações. Nesta complexa teia de relações importa convocar aspectos ligados aos imaginários e o tecido que o embasa: a cultura na sua feição mais complexa. Isto é, que incorpora todas as manifestações socio-antropológicas, configurando linguagens e dinâmicas que recuperam as oralidades que impregnam saberes e sabores numa combinação que liga espaços e tempos passados e presentes numa tensão permanente entre tradições e modernidades. As oralidades não saem de cena com a escrita. Ao contrário, ela se anuncia, por vezes, na escrita mesma, por insistência da voz. Daí que a passagem do vocal para o escrito seja repleta de confrontações, tensões, oposições, conflitos, contradições (Taborda, 2015) e ao mesmo tempo alinhamentos que costuram continuidades, numa dialogia permanente, pois segundo Mallarmé “todos os livros contêm, medida, a fusão de qualquer repetição”. Escrever é um fenómeno que, para além de ser uma particularidade curiosa é um efeito, em eco que define a própria legibilidade do livro. Fora da intertextualidade, isto é, da comunicação com outros textos inscrito pela cultura, imaginários e oralidades a obra literária seria simplesmente incompreensível, tal como a palavra de uma língua ainda desconhecida. O Simpósio literaturas, cultura e oralidades pretende explorar, nas literaturas africanas, no geral, e nas literaturas africanas de língua portuguesa, as dinâmicas das literaturas na perspetiva da inter-subjectivação (Castiano, 2013), um processo em que, os sujeitos do conhecimento entram em diálogo, em concordância ou não sobre as realidades, visões, reconhecendo o Outro e a sua cultura, como uma parte de si, numa expressão e Ubuntu, traduzido vida plena para cada um e para todos e todas, como edificação de saberes que se complementam e se fortalecem. Faz para te de exercício entre o local e o global que constrói pontes que ligam vários sentidos das escritas e das oralidades.

9. Escritas de mulheres

Profa. Dra. Sara Jona Laisse (Universidade Eduardo Mondlane / Moçambique)

Profa. Dra. Luciana Genevan Dias Ferreira (SEE-MG / SE-Juiz de Fora)

 

O simpósio Escrita de Mulheres, o qual contempla literaturas africanas de língua portuguesa, propõe uma reflexão sobre produção e recepção de textos literários de autoria feminina, destacando a relevância dessas obras na construção de discursos de gênero e de resistência. A escrita de mulheres em países como Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe tem sido um espaço de denúncia, contestação e reconfiguração de narrativas hegemônicas, muitas vezes marcadas pelo apagamento da voz feminina. A literatura produzida por autoras africanas como Ana Paula Tavares, Paulina Chiziane, Orlanda Amarílis, Vera Duarte, Odete Semedo, Alda do Espírito Santo e Conceição Lima insere-se em um contexto de ressignificação dos papéis de gênero, pois explora temáticas como a violência, a ancestralidade, a condição da mulher na sociedade e a construção da subjetividade feminina. A recepção dessas obras tanto nos países de origem quanto no cenário acadêmico internacional tem revelado um crescente interesse por perspectivas que desafiam discursos coloniais e patriarcais. Do ponto de vista teórico, pesquisas como as de Inocência Mata têm se dedicado a análises das literaturas africanas de língua portuguesa, enfatizando a relevância da escrita feminina na construção de novas epistemologias. Também há estudos que compreendem o papel da mulher a partir de perspectivas africanas como os de Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí, Teresa Manjate, Ana Mafalda Leite e Sara Jona Laisse, além de abordagens que se fundamentam na Crítica Feminista com Gayatri Spivak, Judith Butler, Simone de Beauvoir; e nos Estudos Pós-Coloniais com Homi Bhabha e Edward Said que auxiliam na compreensão dos atravessamentos entre gênero, identidade e colonialidade. Dessa forma, o simpósio busca contribuir com um debate que fomente a valorização da produção literária feminina nas literaturas africanas de língua portuguesa, ampliando o reconhecimento dessas vozes e promovendo um olhar crítico sobre as relações de poder que permeiam a escrita e a recepção desses textos.

Palavras-chave: Literaturas africanas de língua portuguesa; Autoria feminina; Estudos de gênero.

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