

O EVENTO
O Seminário Internacional de Literaturas dos Países Africanos de Língua Portuguesa (SILAS) é um evento que se constitui como fórum de discussão sobre as literaturas dos países africanos, e não só, seus modos de produção, circulação e recepção, e também sobre as relações que os sistemas literários e estéticos desses países estabelecem entre si e com outros sistemas literários e estéticos.
A segunda edição do SILAS resulta de uma parceria da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Agostinho Neto (UAN), de Angola, da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), de Moçambique e da Universidade de Lisboa (UL), de Portugal. Com o tema Tempos, espaços, mediações, o IIº SILAS abre-se para a discussão sobre as relações entre a experiência cognitiva, a estética e o conhecimento sensível, com foco especial sobre a produção literária, e não só, dos países africanos de língua portuguesa.
Em seu famoso ensaio A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica (1936), cuja primeira versão foi publicada no Brasil em 1985, pela Editora Ática, Walter Benjamin discute a relação entre a arte e a modernidade capitalista, sugerindo que a forma de percepção das coletividades humanas, por ser condicionada naturalmente, mas também historicamente, se transforma ao mesmo tempo que seu modo de existência. Para tentar compreender o modo como se organiza a percepção humana, o filósofo alemão recorre à noção de aura, definindo-a como uma trama de espaço e tempo que pressuporia uma existência única e singular para os objetos. Esses carregariam, em si, as marcas do aqui e agora de sua produção, constituindo-se como um testemunho desse mesmo aqui e agora. Na visão benjaminiana, a aura resultaria de uma experiência do mundo em que o espaço seria interiorizado como tempo, e espaço e tempo se inscreveriam no corpo como memória viva, inseparável do contexto da tradição. Tradição, por sua vez, seria percebida por Benjamin como coisa viva, caracterizada pela alternância entre variação e singularidade. Por isso, a reprodutibilidade técnica da obra de arte envolveria a perda da aura, na medida em que substituiria a fruição atenta e competente da produção estética pela fruição tipicamente distraída das massas. No cenário de fetichização capitalista que marca a contemporaneidade, a arte perderia o valor mítico e ritualístico que estaria na base de sua produção e passaria a fundar-se em outra práxis: a política. A estética deixaria de sublimar o sujeito que contempla uma obra de arte para assumir o objetivo político de tornar sublime os interesses de uma nação, uma ideologia.
A partir desse cenário, interessa ao IIº SILAS refletir sobre como se constroem, nas produções estéticas dos países africanos de língua portuguesa, os processos de intersubjectivacão. José P. Castiano observa que ela resulta do “desejo de os sujeitos se inscreverem e se auto-inscreverem” na história “como sujeitos discursantes sobre a sua própria condição…” (Castiano, 2010, p. 124). Para o filósofo moçambicano, a história de narrativas científicas da objectivação dos africanos é tão velha como a história das narrativas de subjectivação, nas quais este mesmo sujeito africano revela-se a si mesmo como tal e nega ter sido “descoberto”.
Na esteira do pensamento de Castiano, o IIº SILAS aposta na potência da cultura, da arte e da literatura, a partir de uma perspectiva outra, de cunho africano. Como nos diz Achille Mbembe, “é no plano cultural e do imaginário que as transformações em curso estão mais vivas”. (Mbembe, 2019, p. 24). Para o o filósofo camaronês, “alguma coisa fecunda brotará dessa África-gleba, um campo imenso de trabalho da matéria e das coisas, alguma coisa capaz de se abrir sobre um universo infinito, extensivo e heterogêneo, o universo aberto das pluralidades”. (Mbembe, 2019, p. 14).
Assim, o IIº SILAS almeja refletir sobre como as literaturas dos países africanos de língua portuguesa reconfiguram o pensamento sobre a experiência estética e, sobretudo, de intersubjectivação. Como é que essas literaturas convocam as potências do corpo e da mente na construção de modos perceptivos de pensar o homem e o mundo? Como é que pensam a politização da arte? Como se relacionam com a peculiar força cognitiva e produtiva do corpo? Como se relacionam com outros modos de conhecer e produzir o mundo, a natureza? Como é que as literaturas se realizam como processo de intersubjectivação nos países africanos de língua portuguesa?
Essas indagações ecoam algumas das motivações para a criação mesma do SILAS. A primeira delas é a de fomentar o interesse de estudantes de Educação Básica, Graduação, Mestrado e Doutorado pela pesquisa científica em torno das produções estéticas dos países africanos de língua portuguesa, e publicar material analítico e crítico sobre essas produções estéticas, que possa ser disponibilizado amplamente para o público interessado. A segunda é de, em consonância com a Base Nacional Curricular Comum – BNCC (Brasil, 2018) e com a Lei nº 10.639/2003, atuar ativamente na construção de metodologias que permitam a inclusão, no currículo oficial da Educação Básica, da temática histórias e culturas africanas e afro-brasileira, por meio da garantia, a alunos e professores, de acessibilidade a conteúdos e conhecimentos relativos às produções estéticas dos países africanos.
Por fim, o II SILAS também almeja contribuir com as ODS Adjacentes propostas pelo Governo Federal, especialmente a ODS 18 – Igualdade étnico-racial. Na Dimensão Social, o objetivo da ODS 18 é “eliminar o racismo e a discriminação étnico-racial, em todas suas formas, contra os povos indígenas e afrodescendentes”. Corolário a esse objetivo estão as intenções de eliminar todas as formas de violência contra povos indígenas e afrodescendentes nas esferas pública e privada; promover a reparação integral das violações socioeconômica e cultural desses grupos, especialmente os integrantes de comunidades tradicionais, garantindo-lhes o direito à memória, à verdade e à justiça; e ainda, proteger o patrimônio cultural, artístico e religioso desses grupos étnico-raciais, suas memórias, as histórias de seus ancestrais e suas linguagens artísticas. O II SILAS pode contribuir para fortalecer a identidade das comunidades tradicionais afrodescendentes, uma vez que pode recuperar parte de uma memória e de uma história africana que, em alguma medida, as informam, acrescentando ao seu patrimônio cultural saberes artísticos e religiosos que alimentam os processos de hibridização que as constituem. Naturalmente, esses saberes podem contribuir para fortalecer as identidades das comunidades tradicionais afrodescendentes brasileiras, o que pode impactar positivamente sua realidade, a qualidade de sua educação e sua qualidade de vida, a diminuição das desigualdades pelo reconhecimento de suas formas de comunicação e arte, em prol de uma convivência mais pacífica na sociedade.
EIXOS TEMÁTICOS:
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Os 50 anos de independência
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Literaturas dos países africanos de língua portuguesa na pós-independência
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A historicidade das literaturas dos países africanos de língua portuguesa
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O ensino de literaturas dos países africanos de língua portuguesa
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A crítica literária dos países africanos
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Estudos comparados de literaturas dos países africanos
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Diálogos Interartes: A Interseção das Literaturas Africanas e Afrodiaspóricas
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Literaturas, culturas e tradições orais
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Escritas de mulheres










PRESENÇAS INTERNACIONAIS CONFIRMADAS:

Profa. Dra. Ana Paula Tavares
Universidade de Lisboa
Portugal

Escritor Prof. António Fonseca
Memorial Agostinho Neto
Angola

Profa. Dra. Carla Indira Semedo
Instituto do Patrimônio Cultural de Cabo Verde

Escritora Conceição Lima
São Tomé e Príncipe
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Escritora Dina Salústio
Cabo Verde

Prof. Dr. Francisco Noa
Universidade Eduardo Mondlane / Moçambique

Profa. Dra. Inocência Mata
Universidade de Lisboa
Portugal

Prof. Dr. Luís Kandjimbo
Universidade de Witwatsrand de Johannesburgo /
África do Sul

Profa. Dra. Odete Costa Semedo
INEP / Guiné-Bissau

Escritor Ungulani Ba Ka Khosa
Moçambique

PRESENÇAS NACIONAIS CONFIRMADAS:

Profa. Dra. Carmen Tindó Secco
UFRJ / Brasil

Profa. Dra. Rosângela Sarteschi
USP / Brasil

Prof. Dr. Silvio Renato Jorge
UFF / Brasil

Profa. Dra. Simone Schmidt
UFSC / Brasil

Profa. Dra. Tânia Lima
UFRN / Brasil

Profa. Dra. Vima Lia de Rossi Martin
USP / Brasil
